A prefeitura de São Paulo tem instalado no centro da cidade faixas de pedestres em X. A intenção é economizar alguns segundos durante a travessia em cruzamentos muito movimentados.
Em geral, o percurso ocorre em forma de L. Isto porque o semáforo fecha uma via para liberar a outra. Alternadamente. E entre cada trecho é necessário esperar a próxima fase. Com a nova faixa, todos os veículos ficam parados ao mesmo tempo e os pedestres fazem o que sempre quiseram: cortam o caminho na diagonal.
A medida, inovadora no Brasil, foi exaustivamente testada em outros países. Em Tóquio, especificamente no bairro Shibuya, fica o cruzamento mais movimentado do mundo. A explicação para ser um ponto tão procurado é que ocorre a intersecção de cinco avenidas e fica perto de estações de trem e metrô.
Não é à toa que a solução para aliviar a batalha que ocorre entre pedestres quando semáforo abre veio do Japão. Por lá, o número de pessoas nas ruas é tão grande que quando o sinal fica verde, uma grande massa se desloca.
A vantagem japonesa é cultural. A organização ao caminhar pelas ruas faz com que a vida nas cidades não se torne insuportável e caótica.
A primeira faixa transversal em São Paulo foi instalada em dezembro do ano passado no cruzamento da avenida Brigadeiro Luis Antônio com a rua Riachuelo. Gerou curiosidade e muito burburinho. Agora, a prefeitura implantou a “novidade” no quarto cruzamento – todas no centro da capital.
Não há mais motivos para tanto estardalhaço. Além de a sinalização ser de fácil compreensão, quem passa pela primeira vez segue o fluxo.
O projeto é interessante, deve ser expandido para outras áreas. Mas, não cabe à imprensa fazer cobertura sobre cada novo cruzamento pintado. Ainda há muito a ser feito em mobilidade.
O desafio dos semáforos está mais no cálculo da temporização adequada para priorizar transporte público, permitir o fluxo do individual motorizado (carros e motos) e garantir a segurança do pedestre. Este é o aspecto primordial que merece estudos.
Ao colocar a faixa na diagonal, o percurso fica mais longo que o habitual. Quem está a pé deve estar atento para não arriscar em cima da hora e acabar o tempo antes de concluir a travessia.
Tecnicamente, não há grande complexidade na implantação. É evidente que são necessários estudos detalhados para identificar os locais em que há demanda para essa modificação. Não é só pintar o asfalto aleatoriamente. O fluxo de pessoas a pé deve ser alto e o interesse em chegar ao extremo oposto precisa ser grande o suficiente para justificar segurar o fluxo.
Se mal projetada, a novidade pode transformar a região num caos e não beneficiar o cidadão que se desloca caminhando.
O trabalho dos repórteres agora é acompanhar e ver os impactos da medida. Chega de “oba-oba” com uma novidade que não é mais tão nova assim.
Juliana Verboonen e Peter Cabral