Em metrópoles como São Paulo, as pessoas estão cada vez mais isoladas. Elas evitam caminhar pelas ruas do bairro, assistem a filmes em casa e pedem comida em serviços delivery.
Nada contra as praticidades. No entanto, esses hábitos desestimulam a convivência e, consequentemente, quebram vínculos sociais.
Dentro do carro, com isolamento acústico e ar condicionado qualquer contato com mundo externo é eliminado. Muito diferente do que acontece com aqueles que estão sobre a bicicleta. Eles sentem calor e frio, percebem o vento, as ondulações da pista e a luminosidade natural do cenário urbano.
O foco convencional de outrora era o maquinário (automóvel). Hoje, a busca pela humanização do espaço público coloca o indivíduo num contexto sócio-urbanístico conhecido como mobilidade doce.
Este conceito belga – que propõe a interação da pessoa com o ambiente percebendo nuances e vivendo experiências – também é definido como placemaking.
A bicicleta pode proporcionar uma saudável mudança de paradigma. Ela é um instrumento que desperta a transformação de hábitos.
A primeira bicicleta de uma criança é como um brinquedo. Mais tarde, se torna um equipamento esportivo. Por que não torná-la meio de transporte?
É indicado pedalar no meio consolidado, por pequenos percursos em vias de tráfego acalmado, fluxo condicionado de veículos, onde a convivência entre os transportes coletivo e individual ocorra de forma estruturada e fiscalizada.
Este é um dos caminhos para ser livre. Ao se apropriar da cidade, daquilo que por direito é dela, a pessoa passa a ser protagonista. Um caminho originalmente traçado para ciclistas pode se tornar uma rota para a cidadania.
Esse fenômeno social transforma um habitante num cidadão. Alguém que zela pela cidade, que resgata o espaço público e se preocupa em humaniza-lo. Isto é contagiante.
Juliana Verboonen e Peter Cabral